sábado, maio 22, 2010

Eternos


tomar tuas mãos seria como
invadir obtusas estrelas
e vê-las como realmente são:
o quinhão emérito do infinito
que anelas, e a centelha escondida
entre as ruínas do que fomos.

arde no ar o fumo carburado
daquela viagem,
o negrume dos meus olhos ainda moços
com a tua verdura intransigente
e ouvem-se estridentes campanários
à passagem da caravana

nosso humor, colorido entre gozos e medos,
até que desandem as tardes para o que queiramos,
as direções delicadas de tudo o que hoje somos
inscrita na rosa aflatida das vontades.

tomar-te as asas e a sede
na noturna imprecisão dos sonhos
seria como o abandono natural
de estradas silenciosas
onde nossos passos semearam
pedras, galhos, insetos mínimos

e o ânimo da terra bebeu toda a tempestade -
a cidade transluzente dos teus dentes
e lábios mornos pronuncia uma vez mais
meu nome secreto

(e um certo invento rubro vai de novo
adornar-nos o peito úmido
afogar-nos o leito âmago
a imaginar-nos eternos).

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.