segunda-feira, maio 21, 2012

Sonho Virado



eu saio onde se por a linha do escritor
o sol horizontal da música na cor
bordado em ponto cruz a padecer lilás 
na sua mão, cinema do cantor

divago em verso, e cai a noite ocidental
teatro tão lunar dos corações em vão
filosofia audaz que envolve o tempo e traz 
essa canção, e a invenção de ter nascido insone

meu sonho virado, imerso no abraço 
do que não sei, cantado
na sanha da paixão, na lira da maré
o sonho que trago no peito marcado
na contra luz, recado
lançado ao mar, ao vento, ao léu 
a revelar o que se é

eu sei o que seduz a curva das manhãs
componho o que se dá na língua dos xamãs
retalho desse céu da arte, leite e mel
da intenção, vertigem do que sou

assumo a voz do chão, desenho a escuridão 
com nuvens e pincel, esculpo a direção 
do sopro que traduz, e ponho na canção, 
morada sã, a guardiã de tudo que é sem nome.


*letra escrita para melodia de Floriano Santos

quarta-feira, maio 02, 2012

Os mapas viventes


renascer não é um sortilégio de todos os dias
mas de todas as horas
é saber-se orvalhado na flora, e forjar-se arvoredo 
e retornar ao fundo profundo segredo
trazendo de lá a água turmalina,
o âmbar almiscarado de tardes ao vento,
e dos anoiteceres lentos banhados na areia branca
dos lugares onde nunca pisamos
mas que revisitamos, ultrapassados de éter e fleuma
algures fantasmático, hipótese da miragem reincidente
um acidente trêmulo nas mãos do tempo
o festim da intempérie íntima, a nuvem
de um balbucio amoroso.

desse poço que cavaste ao longo das translações,
e da promessa de primaveras
emergirá o balde transbordante da manhã de teus anos
as quarenta elegias clavadas
na bordadura inesperada de muitas gratidões 
a ti, que exististe até agora, persistindo
em humanidades conquistadas
e ao teu duplo, que reparte em muitas outras direções 
os teus mapas viventes, caiados de futuro.

Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.