Gosto de escrever a quatro mãos, e já publiquei algumas parcerias na Página Branca; estranhamente, ainda não havia publicado esta, que nasceu nessa noite como substrato de uma de nossas conversas mais profícuas. O poema, construído verso a verso como num diálogo, tornou-se desde o ano passado o encerramento do espetáculo De Tudo: música+poesia, que realizo com o poeta Renato Gusmão, e o considero emblemático de tudo o que representa ser poeta: um diálogo com algo que não se vê, mas se sente profundamente, como os amigos invisíveis das crianças. Serei sempre eternamente agradecido, Senhora Lua...
vive mais poesia no
olhar
do que nos objetos - afetos de brisa
que fitam palavras de
ternura
balançam nas juras que o vento paralisa
versos celebrados em
candura
que nenhuma escura voz poderá obliterar
nossa escritura
vincular ilimitada
a espada de lírios que empunhas absorta
imensidade cumprida em
segredo sideral
assusta, deveras, os que compreendem mal
mas exalta o universo
dos que amam
há mais poesia porque dela floresces
como as medusas das
praias nuas
como absintos das ruas e vielas multicores
rédeas e rodopios da
vida -
a que consentes, a que conquistas
a que vences sem armas,
com beijos
na planície, sob a aurora do desejo
marcha de sonho e um
reino florido
para teu povo - a gema límpida do futuro
pátria de sermos