desse olhar que me escapa
na descida do metrô
na descida do metrô
desse, onde não estou
na frondosa fonte decepa
o horizonte, o mirante, o pátio
do átrio mudo, esbraveja
de um copo de cerveja, inveja
a peleja sem entrega da fronte
diante do ato frio na multidão
dessa solidão resignada
donde a cortesia sofre o corte
da enxada entrincheirada
de certo desejo ou flerte
com a morte, a sorte, o ensejo
desse olhar em que não vejo
a mim ou ao outro, ensimesmado
arrumo os dentes enfileirados
sobre os lábios entreabertos
sem saber ao certo onde termina
o que imagina e o que desperto
desse olhar, o deserto sobreavisa
e pisa o peito no que resvala
e cala, suspeitando que comunica
o mínimo esgar do que não distraia
do que não caia na vala comum
dos desafetos da grande cidade
onde arde arde arde a sutura
entre a noite escura e o dia
no mais fundo que não sossega
na mais rasa filosofia.