quinta-feira, agosto 08, 2013

Poemas paulistanos


desse olhar que me escapa
na descida do metrô
desse, onde não estou
na frondosa fonte decepa
o horizonte, o mirante, o pátio
do átrio mudo, esbraveja
de um copo de cerveja, inveja
a peleja sem entrega da fronte
diante do ato frio na multidão

dessa solidão resignada
donde a cortesia sofre o corte
da enxada entrincheirada
de certo desejo ou flerte
com a morte, a sorte, o ensejo
desse olhar em que não vejo
a mim ou ao outro, ensimesmado
arrumo os dentes enfileirados
sobre os lábios entreabertos
sem saber ao certo onde termina
o que imagina e o que desperto

desse olhar, o deserto sobreavisa
e pisa o peito no que resvala
e cala, suspeitando que comunica
o mínimo esgar do que não distraia
do que não caia na vala comum
dos desafetos da grande cidade
onde arde arde arde a sutura
entre a noite escura e o dia
no mais fundo que não sossega
na mais rasa filosofia.


Quem sou eu

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Belém, Pará, Brazil
Renato Torres (Belém-Pa. 02/05/1972) - Cantor, compositor, poeta, instrumentista, arranjador, diretor e produtor musical. Formou diversas bandas, entre elas a Clepsidra. Já trabalhou com diversos artistas paraenses em palco e estúdio. Cria trilhas sonoras para teatro e cinema. Tem poemas publicados nas coletâneas Verbos Caninos (2006), Antologia Cromos vol. 1 (2008), revista Pitomba (2012), Antologia Poesia do Brasil vol. 15 e 17 (Grafite, 2012), Antologia Eco Poético (ICEN, 2014), O Amor no Terceiro Milênio (Anome Livros, 2015), Metacantos (Literacidade, 2016) e antologia Jaçanã: poética sobre as águas (Pará.grafo, 2019). Escreve o blog A Página Branca (http://apaginabranca.blogspot.com/). Em 2014 faz sua estreia em livro, Perifeérico (Verve, 2014), e em 2019 lança o álbum solo Vida é Sonho, autoproduzido no Guamundo Home Studio, seu estúdio caseiro de gravação e produção musical, onde passa a trabalhar com uma nova leva de artistas da cidade.